Quero o orgulho desta criança para enfrentar a vida, o seu ar de desafio, o sabor das tristezas que transporta no olhar penetrante por entre as farripas dos cabelos. quero o seu aprumo sem família contra o mundo.
Talvez amanhã seja puta, drogada ou mesmo milionária coberta de esmeraldas, batedora de records de atletismo ou simplesmente secretária, empregada de balcão a sonhar-se miss qualquer coisa e a desprezar quem na esqueceu.
Talvez dê em mulher-polícia, persiga irmãos e primos, ou venda bugigangas pelas feiras e cortes de fazenda, talvez me leia a sina com um criança ranhosa nos braços e a fala estropiada.
Ou talvez saiba os nomes das estrelas, se doutore em física quântica no Instituto Max Planck, seja médica anestesista, actriz numa novela de subúrbio, revolucionária de metralhadora em punho, bailarina de cabaret a esvoaçar.
Seja o que for, eu quero. quero o seu brilho nos olhos, a sua boca firme, o seu cabelo em desalinho, os seus andrajos, o todo mendicante às três pancadas, a intimidar-me com a terrível experiência da vida que já tem, da infância que nunca teve, dos silêncios medidos de ter brincar aos adultos.
1 comentário:
Quero o orgulho desta criança
para enfrentar a vida,
o seu ar de desafio, o sabor
das tristezas que transporta
no olhar penetrante
por entre as farripas dos cabelos.
quero o seu aprumo sem família
contra o mundo.
Talvez amanhã seja puta, drogada ou mesmo milionária
coberta de esmeraldas,
batedora de records de atletismo
ou simplesmente secretária,
empregada de balcão
a sonhar-se miss qualquer coisa
e a desprezar quem na esqueceu.
Talvez dê em mulher-polícia, persiga irmãos e primos,
ou venda bugigangas pelas feiras
e cortes de fazenda, talvez me leia a sina
com um criança ranhosa nos braços
e a fala estropiada.
Ou talvez saiba os nomes das estrelas,
se doutore em física quântica no Instituto Max Planck,
seja médica anestesista, actriz numa novela de subúrbio,
revolucionária de metralhadora em punho,
bailarina de cabaret a esvoaçar.
Seja o que for, eu quero.
quero o seu brilho nos olhos,
a sua boca firme,
o seu cabelo em desalinho,
os seus andrajos, o todo mendicante às três pancadas,
a intimidar-me com a terrível experiência
da vida que já tem, da infância que nunca teve,
dos silêncios medidos de ter brincar aos adultos.
Quero, just in case. não sei se muda o mundo.
Vasco Graça Moura
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